Prefácio

Este prefácio pretende situar o cenário cultural, mediático e educacional em que surge este e-book, e saudar a sua contribuição para a formação de professores capazes de educar no nosso tempo com o auxílio das tecnologias digitais de informação e comunicação. Parte da percepção de que na cultura digital ou cibercultura temos a emergência de algo precioso e muito favorável à sala de aula baseada na aprendizagem participativa e colaborativa, preconizada e desenvolvida por clássicos educadores. Trata-se da dinâmica cognitiva e comunicacional das gerações que emergem com as potencialidades do computador, do telemóvel e da internet operacionalizados como conectividade, multidirecionalidade, partilha, colaboração, interatividade... Como diz Santaella, tivemos a centralidade do “leitor contemplativo” que realiza uma leitura individual, solitária e linear, correspondente aos meios unidirecionais de massa (imprensa, rádio e tv); na era digital a centralidade é do “leitor imersivo” que navega por nós e faz nexos, operando através da tela digital online uma linguagem que ele mesmo constrói com outros indivíduos conectados.

A tela digital online não é um meio de transmissão de informação como a tradicional televisão. Requer um interlocutor participativo, colaborativo e autoral. Ela é espaço de entrada e manipulação em janelas móveis, plásticas, em hipertexto e abertas a múltiplas conexões entre conteúdos e interagentes geograficamente dispersos, em tempos síncrono e assíncrono. Com a tela digital crescem gerações de utilizadores que tomam uma atitude autoral e colaborativa diante dos conteúdos abertos à sua intervenção, diante das interfaces que dependem do seu gesto instaurador para criar e alimentar a sua experiência comunicacional. Nesse cenário social e tecnológico, a emergente dinâmica cognitiva e comunicacional exige uma sala de aula presencial e online capaz acolher essa tendência sociotécnica e com ela potenciar as teorias e práticas de mediação docente e de aprendizagem historicamente reconhecidas como democráticas, colaborativas, interacionistas, multiculturais.

Mais do que ter tudo isso em conta, os professores são convidados à formação contínua, capaz de prepará-los para enfrentar os desafios na nova ambiência de conhecimento, crenças, artes, valores, leis, costumes, hábitos e aptidões desenvolvidos pelas sociedades na era digital em rede global. Uma formação capaz de os motivar a estarem sintonizados com o movimento das tecnologias digitais de informação e comunicação e suas implicações cognitivas e comunicacionais na educação “presencial” e online, na formação da cidadania, da cibercidadania.

O digital é responsável por uma revolução tecnológica e cultural sem precedentes, a partir da transformação de átomos em bits. A codificação digital contempla o caráter plástico, fluído, hipertextual, interativo e tratável em tempo real do conteúdo da mensagem. A transição do analógico para o digital permite a criação e estruturação de elementos de informação, de simulações, de formatações evolutivas nos ambientes online 2D e 3D que permitem criar, gerir, organizar, fazer movimentar uma documentação completa com base em textos, imagens e sons. O professor, historicamente acostumado a esquemas unidirecionais de transmissão e reprodução, precisará de desenvolver uma inclusão digital que o motive a operar com as tecnologias digitais de informação e comunicação para formar e educar com a cultura digital, com a cibercultura.

O livro Educação e tecnologias: reflexão, inovação e práticas traz contribuições valiosas para essa formação necessária. Seus organizadores, Daniela, Cláudia, Filipa, José António e Susana, estão atentos à dinâmica do novo cenário sociotécnico e dos seus desafios para a educação. Eles reuniram investigadores de Portugal, Brasil, Chile, Espanha, França e Inglaterra em três eixos temáticos: “construindo e refletindo”, “aplicando e transformando” e “inovando e experimentando”. Na cadência destes pares de gerúndio, os autores expõem suas ideias, experiências e reflexões sobre o tema, por meio de artigos, que, ao examinar de várias maneiras e perspectivas a educação na era digital, potenciam discussões sobre as transformações na cultura, na educação e no mundo do trabalho; a formação de leitores, a condição, formação e os novos desafios do professor; a aprendizagem colaborativa; as redes sociais de educação; e as novas práticas e possibilidades pedagógicas.

Para novos tempos, novos meios e suas abordagens. Não é à toa que o livro vem a público em meio digital online e de forma colaborativa, multicultural e diversificada. Ainda que agregue linhas atuais de investigação, não se limita a analisar os desafios presentes, oferece pistas também para desenvolvimentos futuros da educação, nem se limita ao meio académico, pode interessar também a não especialistas. A melhor notícia é que tão importantes quanto as respostas que apresenta são as questões que a coletânea suscita, desafiando os leitores a novas investigações.

Marco Silva
mparangole@gmail.com
Rio de Janeiro, 03/abril/2011